quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O que não dizer para seus sogros estrangeiros nas festas de fim de ano

Assim como eu, muitos dos leitores de ‘Filhos bilíngues’ são casados com pessoas de nacionalidade diferente da sua. Nessa situação, nosso relacionamento com a família de nossa cara metade pode ser excelente ou um tanto quanto atribulado, mas em todos os casos um pouco de tato de nossa parte pode surtir bons efeitos.



Tenho muita sorte pois a família de meu marido é maravilhosa e me adotou de coração. No entanto, durante esse meu ano e pouco na globosfera materna internacional percebi que o mesmo não ocorre em todos os casamentos internacionais, e que brasileiros e brasileiras sofrem pelo mundo afora por causa de conflitos com sogros, cunhados, sobrinhos, etc.  Na maioria das vezes as causas desses conflitos são diferenças culturais. Como lidar com tais diferenças poderia ser o tema de um tratado de mestrado, mas existem algumas regras simples que, mesmo não resultando necessariamente num relacionamento harmonioso, podem pelo menos ser usadas para evitar conflitos.

Sem sombra de dúvida, a regra mais importante é ser diplomático - sempre. Mas o que isso significa na prática? Pelo menos para as festas de fim de ano, encontrei dicas excelentes num artigo do site Multilingual Living.  O texto traz uma lista das 10 coisas que pessoas em casamentos internacionais que estejam indo passar as festas com a família do cônjuge realmente devem evitar dizer para seus sogros durante a visita. Abaixo, a lista das dez frases destruidoras da paz:

1.    “Em meu país nós nunca preparamos este prato desta maneira.”
Resista ao impuso de explicar como o prato em questão é preparado em seu país de origem. O melhor é elogiar a comida e pronto.  

2.    “Eu não vejo a hora de voltar a morar no Brasil.”
Se você vive perto dos seus sogros, falar sobre uma mudança para outro país pode deixá-los muito tristes.

3.    “A maneira como se faz [x, y, z] neste país é horrível.”
Acho que essa dispensa qualquer comentário...

4.    “Como alguém pode viver com esse clima horrível?”
Seus sogros podem apreciar o clima do lugar vivem e, mesmo que não gostem, um comentário desses não vai levar a nada.

5.    “O governo neste país é tão… ”
Falar sobre política com qualquer um é complicado, portanto o tema requer muito cuidado. Mesmo que você e seus sogros tenham as mesmas convicções políticas, algumas afirmações são arriscadas e podem ser entendidas como um ataque.

6.    “Seu filho/filha não gosta mais disso.”
Num casamento internacional cada um tem que se adaptar aos costumes do cônjuge, que podem ser bem diferentes. Seus sogros podem não perceber exatamente quais preferências e costumes de seu filho/filha mudaram. Se alguém tem que falar sobre isso com eles, melhor que seja seu esposo e não você.

7.    “Por favor não se meta na nossa vida.”
Principalmente com relação à educação de nossos filhos, o fato de não querermos fazer as coisas da mesma maneira que nossos sogros não significa que nós não podemos pelo menos ouvir seus conselhos. Simplesmente não precisamos seguí-los.

8.    “Nossos filhos adoram estar com meus pais.”
Independentemente da qualidade do relacionamento de seus sogros com seus filhos, nunca os compare com seus pais.

9.    “A maneira como sua família faz as coisas é realmente estranha.”
Pode parecer inofensivo mencionar as diferenças que nos irritam, mas esse nem sempre é o caso, e muitas vezes isso pode magoar até nosso próprio esposo. O melhor é reconhecer que as coisas são diferentes. Se algo for um problema muito grande converse separadamente sobre isso com seu cônjuge.

10. “Posso lhe dar um conselho?”
Mesmo que você ache que um membro da família de seu esposo poderia estar agindo de modo diferente, se a situação não atinge você diretamente, melhor ficar de bico calado.

Feliz ano novo a todos, e muita diplomacia com os sogros internacionais!



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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Conte-me e esquecerei. Mostre-me e lembrarei. Envolva-me e entenderei.

Há muito tempo as pessoas tentam entender como os seres humanos aprendem e consequentemente como as crianças devem ser educadas. A maioria dos sistemas educacionais hoje se baseia na suposição de que crianças nascem para ser “ensinadas”, e não para aprender.

Resultados de pesquisas recentes começam a esclarecer a distinção essencial entre “aprendizagem” e “ensinamento”. Com esta melhor compreensão (que começou a partir dos anos 80) de como as crianças aprendem, nota-se como sua curiosidade inata pode ser destruída por instituições educacionais insensíveis e pouco desafiadoras, e por falta de apoio emocional. Parece que em pleno século 21 ainda não conseguimos aceitar a sugestão de Einstein de que “a imaginação é mais importante do que o conhecimento”.

Por não entender a necessidade instintiva dos adolescentes de encontrar sua própria maneira de fazer as coisas, a sociedade ocidental está correndo o risco de criar um sistema educacional que vai tão contra a natureza do cérebro adolescente, que o ensino convencional acaba involuntariamente trivialisando os jovens que deveria apoiar. Se os sistemas educativos atuais não se guiarem por pesquisas na area biológica e nas ciências sociais, continuarão a tratar a adolescência como um problema, e não como a oportunidade que ela representa.

Tendo as idéias acima como base, a 21st Century Learning Initiative lançou uma série de animações curtas, narradas pelo ator britânico Damian Lewis.

A 21st Century Learning Initiative foi estabelecida em 1995 por um grupo de organizações e de homens de negócios ingleses e americanos para dar sentido a pesquisas sobre educação e considerar criticamente os processos de aprendizagem fragmentados em várias disciplinas diferentes atualmente em voga. Hoje a 21st Century Learning Initiative oferece programas de formação a organizações e grupos no Reino Unido e no Canadá.

Duas animações da serie “Born to learnseguem abaixo. Matéria para reflexão ...












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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Livros infantis em português online para o seu natal

Issuu é um serviço disponível através da internet, que permite a visualização de material digital, como livros, revistas e jornais. Enquanto muitos dos documentos são criados especificamente para serem vistos online, alguns podem ser baixados e salvos.

Especialmente para os pais que têm dificuldade de encontrar livros em português na cidade onde moram, o Issuu pode ser uma excelente ferramenta para o desenvolvimento da biliteracia infantil. 

Fiz uma pesquisa rápida no site e montei para vocês uma pequena biblioteca de livros e revistas infanto-juvenis em português (alguns em português de Portugal) que espero que gostem. São 18 revistas e livros no total - clique na seta à direita das prateleiras para ver mais publicações.

Boa leitura! 








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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Autora convidada: Madalena Cruz-Ferreira

No post ‘Devemos usar apenas uma língua com crianças que apresentam atraso no desenvolvimento da fala?’ recomendo a leitura de um artigo escrito pela especialista Madalena Cruz-Ferreira, PhD em Linguística e Fonética pela Universidade de Manchester.

Após a publicação desse post tive a enorme honra de ser contatada por Madalena, que é portuguesa, e de ter ‘Filhos Bilíngues’ adicionado à lista de leitura do seu blog, ‘Being Multilingual. Madalena se dedica ao multilinguismo, adulto e infantil, há mais de 35 anos. É casada com um sueco, vive em Singapura, e é mãe de três filhos trilíngues. É autora de muitos livros de sucesso sobre multilinguismo, inclusive um especificamente sobre aquisição da língua portuguesa 

Sou fã de carteirinha de Madalena há muito tempo, mas nunca havia lido um livro ou artigo sobre multilinguismo escrito por ela em português. Para minha grande alegria, e para o enorme benefício dos leitores, Madalena gentilmente aceitou meu convite para escrever um artigo em nossa querida língua materna para publicação em ‘Filhos Bilíngues’. O excelente texto segue abaixo. Aproveitem, pois ter a oportunidade de ler algo sobre o tema escrito em português por uma especialista de nível internacional é coisa rara. 


Preocupações multilíngues – ou talvez não

Madalena Cruz-Ferreira

Muitas das perguntas que recebo de pais e educadores recém-chegados ao multilingualismo refletem as preocupações que eu própria tive, como mãe novata dos primeiros meninos multilíngues na minha família e na do meu marido. Por exemplo: Que língua(s) devo usar com os meus filhos, e como? (Resposta: a língua ou as línguas que sejam naturais para si, como forem naturais para si.) Usar várias línguas com uma criança pode afetar, ou atrasar, o seu desenvolvimento linguístico e cognitivo? (Resposta, bem concisa: Não.)

Outras perguntas têm a ver com aquisição da linguagem, isto é, com o desenvolvimento típico de qualquer criança independentemente do número de línguas usadas na família ou na comunidade. Por exemplo: A minha filha começou a tentar juntar palavras para dizer frases e começou a gaguejar, será por nós falarmos duas línguas com ela? (Resposta: construir frases fluentes implica muita ginástica de músculos ligados à fala, e muita ginástica intelectual. Coordenar tudo isso requer treino, e treino prolongado. Meninos monolingues também gaguejam nesta fase de aprendizagem, e todos os meninos também tropeçam e caem quando aprendem a andar e querem correr.) 

Todas as perguntas, no entanto, refletem um sentimento de diferença, e principalmente de exceção: nós, multilíngues, somos diferentes deles, monolingues, e eles são a norma. O que resulta em pensar que meninos multilíngues fazem ou não fazem certas coisas porque são multilíngues. Eu gosto sempre de questionar perguntas, para ver se elas têm razão de ser, e uma questão é certa: a convicção de que o multilingualismo causa, ou afeta, ou piora, ou melhora, ou tem alguma coisa a ver com o desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento geral infantil é apenas isso, uma convicção. Não existe fundamento científico para afirmar que uma quantidade, número de línguas, tenha influência numa qualidade, aquisição da linguagem.

O motivo da arbitrariedade de afirmações deste tipo é simples: ser multilíngue, ou monolingue, não é mais nem menos “normal” do que o inverso, porque desde sempre os seres humanos usaram uma ou mais línguas. As línguas, e o número de línguas de que necessitamos, são instrumentos que nos identificam com a comunidade em que nascemos e vivemos, e que servem os nossos objetivos e as nossas práticas culturais. O multilingualismo não é recente nem estranho: o que é recente e estranho é a convicção de que ele é recente e estranho. Fala-se de CLD children (culturally and linguistically diverse children) ‘meninos culturalmente e linguisticamente diversos’, como se meninos monolingues fossem culturalmente e linguisticamente homogéneos; e fala-se de meninos que usam heritage languages, ‘línguas de herança’, como se meninos monolingues não tivessem herança linguística. Os multilíngues não são responsáveis pelos termos que pesquisadores e falantes monolingues gostam de colar neles, e que não têm significado real.

Penso que será bom mudarmos as nossas convicções. Primeiro, porque elas não refletem os factos; e segundo, porque as preocupações que derivam delas se entranham no nosso contato com os nossos meninos, e podem vir a afetá-los a eles também: eles vão crescer pensando que são “diferentes”, sem entender bem como nem porquê. Isto é tanto mais irrelevante que ser multilíngue é de facto a regra. Existe mais gente no mundo que usa mais de uma língua no dia a dia do que gente que usa uma só língua. Não faz sentido caracterizar uma maioria como especial ou como exceção, e não faz sentido querer observar multilíngues com olhos de monolingue – por que não o inverso, nesse caso? Um monolingue também parece bem estranho, visto com olhos de multilíngue. Não é difícil encontrar diferenças e estranhezas: basta querer encontrá-las, porque somos todos diferentes. Por isso eu acho que é mais interessante procurar o que temos em comum: todos nós usamos o repertório linguístico que temos, uma língua ou mais, de acordo com o que é relevante na nossa vida.

Para voltar a perguntas frequentes que recebo, e cujas respostas se ligam a típicos comportamentos multilíngues, os multilíngues usam cada uma das suas línguas de forma diferente, porque é para isso que precisam de línguas diferentes. Isto significa que cada língua naturalmente se desenvolve de forma diferente também: uma para falar com a mãe, outra com o pai, outra com os professores e amigos na escola, ou entre irmãos – é isto mesmo que se passa na minha família, por exemplo. E as chamadas “misturas de línguas” são típicas tanto do multilingualismo como do monolingualismo. Quando falamos de robôs, ou de tufões, ou da internet, estamos a misturar línguas. Estas palavras não são portuguesas, e só ficaram portuguesas porque falantes do português assim decidiram, pela força do uso, e necessariamente por primeiro uso de um multilíngue, que as conhecia de outra língua. São as convenções humanas que fazem os usos: as palavras não pertencem às línguas, pertencem às pessoas que as usam. Uma criança que diz Quero o meu teddy-bear! está a fazer o mesmo, usando as palavras que achou úteis na sua experiência linguística total, para exprimir o que é importante para ela.

Este último exemplo ressalta uma nota final que queria deixar aqui: muitas vezes notamos o que os nossos meninos multilíngues não fazem, e descuramos aquilo que eles fazem. Usar palavras de línguas diferentes significa usar línguas diferentes, e assim fazer o que todos os multilíngues fazem. Meninos, tal como todos nós, aprendem fazendo.


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Mais informações sobre o trabalho de Madalena Cruz-Ferreira e sobre como entrar em contato com ela podem ser encontradas no seu blog ou em sua página acadêmica, ‘Being Multilingual’.


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