segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

... Cinco, seis, falar franglês

Outro dia deparei acidentalmente com um artigo interessante escrito por Charles Timoney, um inglês casado com uma francesa, que se mudou para Paris há 25 anos e lá criou dois filhos, que já estão na universidade. O artigo, entitulado “Let's parler Franglais”  (algo como “Vamos falar franglês”), trata da experiência de criar filhos bilíngues.



Segundo o autor, o bônus inesperado de se viver no exterior é que você ganha filhos bilíngues quase que de graça. Ele diz que o processo é muito mais simples do que se imagina: o único requisito é que os pais falem cada um na sua língua materna com os filhos – ele sempre falou inglês com os dele, e a mulher francês. Como sabemos, essa é uma das fórmulas básicas do bilinguismo infantil, o famoso  método “one parent, one language”. Mas a dificuldade de Charles era fazer com que as crianças respondessem para ele em inglês, pois, por viverem na França, francês era a língua dominante no meio e a tendência era que elas respondessem em francês.

O pai, um homem obviamente determinado, achou uma solução: disse aos filhos, quando ainda pequeninos, que não respondessem em francês porque ele não entendia uma palavra sequer daquela língua. Aparentemente, quando as crianças descobriram que isso não era verdade era tarde demais! Uma solução perspicaz para um problema extremamente comum para famílias tentando ensinar a seus filhos uma língua que não é a falada em seu país de residência. Charles teve mais sucesso que muitos outros pais na mesma situação.

O autor também admite não ser fácil falar somente uma língua “estrangeira” com seus filhos o tempo todo: em lojas, na escola, restaurantes, na casa dos outros e, especialmente, em frente dos amigos dos filhos.

Como nós também fizemos com nossa filha, Charles e sua esposa sempre tentaram conscientizar seus filhos dos benefícios do bilinguismo, explicando que eles eram privilegiados, pois algumas pessoas falavam inglês, outras francês, mas eles falavam ambos. No entanto, numa certa ocasião a filha do casal foi vista dizendo com muito orgulho a uma amiga que ela falava três línguas: inglês, francês e “ambos”.  Criança bilíngue tem cada uma...

Os filhos de Charles dizem que ter crescido com um pai que falava uma outra língua com eles o tempo todo não foi embaraçoso de forma alguma, mas eles sempre foram considerados ingleses por seus amigos. Segundo o pai, pelo menos quando os apresentavam a outras pessoas seus amigos diziam, "Ils sont anglais, mais sympas" – “Eles são ingleses, mas são simpáticos”.

Parece que no final os filhos de Charles se tornaram ao mesmo tempo ingleses, franceses e “ambos”.  Sorte a deles!


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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Para nossos filhos bilíngues, no natal


'Twas the night before Christmas and all through the casa

not a creature was stirring, not even a traça.

The crianças were all tucked away in their camas,

some in vestidos and some in pijamas.

The stockings were hanging with muito cuidado,

in hopes that Saint Nicholas would feel obrigado

to bring all the children sem faltas pendentes

a nice batch of doces and other presentes.

Outside in the yard there arose such a grito,

that I jumped to my feet like a frightened cabrito.

I ran fast to look outside the janela,

and who in the world do you think that it era?

St Nick in a sleigh and a big red sombreiro

came dashing along like a crazy bombeiro!

And pulling his sleigh, instead of the renas,

were eight little burros moving a duras penas.

I watched as they came, very close to the entrada,


shouting and whistling, fazendo a chamada:

"Oi Lucas! Oi Pedro! Oi Camilla! Oi Beto!

Oi Julio! Oi Luisa! Oi Maria! Oi Neto!
"

Then standing erect with his hand on his pança,

he flew over the roofs of our own vizinhança!

With his round little belly like a sack of café,

he struggled to squeeze down our old chaminé.

Then huffing and puffing, at last in our sala,

with soot smeared all over his red suit de gala,

he filled all the stockings with lots of presentes,

for all of the kids had been obedientes.

Then chuckling aloud, seeming bem satisfeito,

he turned like a flash and was gone como o vento.

And I heard him say something muito legal:


"To all bilingual childen, um FELIZ NATAL!!"






Adaptação da versão em inglês e espanhol


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Alfabetização de crianças bilíngues em português, parte 3 - Motivação e estímulo

Concluí a segunda parte da trilogia de posts sobre alfabetização dizendo que o segredo do sucesso de crianças que aprendem a ler e escrever em português sem treinamento formal parece estar na combinação de uma boa alfabetização na primeira língua com uma grande fluência no português falado e muita motivação para decodificar o português escrito. Neste derradeiro post sobre alfabetização vou tratar da questão da motivação e do estímulo da leitura e da escrita em português.






A motivação da criança para ler e escrever em português é talvez um aspecto um pouco negligenciado pelos pais. Como com a linguagem falada, a meu ver também é necessário que a criança queira acessar material escrito em português, que veja o valor da literacia em português, para que a mesma se dê de modo mais espontâneo.

Nossa filha é privilegiada, pois tem muitos parentes e amigos que estão constantemente lhe dando livros e outros materias que estimulam a leitura em português. Com tanto material interessante para desbravar, a motivação para ler é muito maior. Também usamos correspondência com parentes e amigos no Brasil, especialmente os da mesma idade de nossa filha, seja por carta, email ou instant messaging, para motivá-la a escrever em português. O uso da linguagem escrita de forma prática, em atividades que a criança gosta, aumenta o valor da literacia no idioma, da mesma maneira como ocorre com a linguagem falada.

Estímulo constante também é importante. Antes de ela ser alfabetizada em inglês, estimulávamos nossa filha em relação à leitura e à escrita com várias atividades. Por exemplo:
  •  Desde muito cedo eu lia estórias para ela em voz alta, mostrando o texto que estava lendo, e apontando para cada palavra lida – a criança tem que entender desde pequena que a escrita representa a fala. Isso também vai ajudar a criança a compreender melhor a estrutura da linguagem, por exemplo que existem espaços entre as palavras e que a escrita vai da esquerda para a direita. A meu ver esta técnica dá excelentes resultados. Eu recomendo!
  • Eu sempre lia interpretando as estórias, colocando muita emoção, fazendo vozes para os personagens.
  • Conversávamos constantemente sobre os livros que estávamos lendo. Ela fazia perguntas sobre o texto, eu pedia para ela adivinhar o que iria acontecer em seguida conforme lia a estória, falávamos sobre coisas no livro que ela podia associar a seu dia a dia.
  • Líamos os seus livros favoritos várias vezes pra ela.
  • Nossa filha sempre gostou de desenhar, desde bebê, e sempre teve papel, lápis, giz de cera, lápis coloridos e canetas à sua disposição. Isso a ajudou a desenvolver sua coordenação motora e a aprender a escrever cedo e sem problema. Nós também fazíamos com que ela nos visse constantemente usando materiais de escrita, por exemplo escrevendo bilhetes, cartas ou cartões.
  • Visitávamos nossa biblioteca local e a biblioteca central do distrito com frequência, desde quando ela era bebê. Inclusive desde pequena ela tinha seu próprio cartão para empréstimo de livros. Ela sempre saía feliz da vida com um monte de livros emprestados, com os quais se divertia muito. Aliás, os bebês devem ter contato com livros com ilustrações, próprios para sua idade, desde pequeninos. As crianças precisam experimentar vários tipos de material de leitura. Por exemplo, livros só de figuras, quadrinhos, revistas, gibis, poemas e até jornais.

Sempre agimos com nossa filha como se ler e escrever também em português fosse uma coisa que ela iria poder fazer naturalmente, sem muita complicação.  Após a alfabetização em inglês ela continuou tendo muito estímulo e muito contato, de forma lúdica, com o português escrito:

  • Eu deixava bilhetes em português para ela, inicialmente sem saber ao certo se ela entendia o que estava escrito neles ou não. Ela também sempre tentou escrever seus bilhetes pra mim em português. No início com muitos erros ortográficos, mas melhorando rapidamente com a prática.  
  • Ela foi sempre cercada de livros em português apropriados para sua idade. Eles estavam à sua disposição, na estante de livros que há em seu quarto, se ela quisesse lê-los, mas nunca insistimos que ela lesse algum livro em particular ou num idioma específico. A escolha era dela.
  • Eu também comprava em sebos aqui da Inglaterra livros infantis em inglês ou outras línguas e colava uma cópia do texto traduzido para o português sobre o texto original. Esta é uma ótima alternativa para quem não tem acesso a livros infantis em português.
  • Ler gibis pode ser muito bom, pois os desenhos ajudam no entendimento do texto. Nossa filha adorava ler gibis brasileiros. 
  • Todo natal, páscoa, aniversários e em outras datas especiais ela escrevia cartões para a família no Brasil: inicialmente ela ditava a mensagem para mim, eu escrevia num papel e ela copiava no cartão, mas com o tempo ela passou a compor seus próprios textos.
  • Quando íamos ao supermercado com uma lista (sempre escrita em português) pedia para ela conferir o que faltava colocar no carrinho, enquanto eu ia buscar algum produto.  Fazia o mesmo quando estávamos cozinhando juntas seguindo uma receita.
  • Durante um período nossa filha frequentou aulas de duas horas por semana numa escolinha de português que, apesar de não alfabetizar as crianças, usava material escrito para ensinar vocabulário e gramática.  As aulas eram sempre lúdicas, as crianças achavam que a escolinha era um lugar pra se divertir. Mesmo assim acredito que os benefícios que nossa filha teve foram imensos.

    Algumas dicas

    Tenha paciência, não pule etapas – cada criança se desenvolve no seu tempo. Pode haver bloqueio ao aprendizado se a criança sofrer pressão para atingir metas que estão além da sua capacidade.

    Se você tiver qualquer ansiedade com relação à alfabetização não deixe seu filho perceber, nem dê a impressão de que o processo vai ser difícil.

    Não critique nem aponte errors – se a criança escreve uma palavra errada repetidamente, simplesmente faça com que ela tenha contato com a forma correta de escrita da palavra no futuro. Mas se ela lhe perguntar como se escreve, ensine.

    Toda a família pode ter um papel importante na alfabetização, expressando alegria e orgulho das tentativas da criança de ler, demonstrando a importância da alfabetização, tanto no idioma falado em casa quanto no do país de residência.

    Conclusões

    As conclusões a que cheguei, considerando o desenvolvimento de nossa filha na prática, e que talvez se apliquem única e exclusivamente a ela, pois cada criança é diferente, são as seguintes:
    •   A base do sucesso da biliteracia parece estar na qualidade da alfabetização na primeira língua, um processo que se inicia bem cedo, com os estímulos proporcionados pelos pais, passa pela maneira como a alfabetização se dá na escola e pela motivação da criança para usar e desenvolver a leitura e a escrita.
    •   Uma vez que a criança aprende a ler e escrever na primeira língua, ela está alfabetizada. A partir daí ela tem capacidade de transferir conhecimentos e aplicar as técnicas em questão para ler e escrever em outras línguas baseadas  no mesmo alfabeto, especialmente se usa as técnicas do sistema sintético ou fônico. O processo de ‘alfabetização’ não tem que ser repetido cada vez que a criança tenta aplicar as técnicas a um novo idioma. O que precisa haver é prática.
    •   A vontade da própria criança de ler e escrever na língua em questão facilita enormemente o processo. Quando esta vontade aflorar a criança estará pronta para transferir espontaneamente os conhecimentos obtidos na alfabetização no primeiro idioma.
    •   A fluência oral no idioma em que se quer que a criança leia e escreva é essencial. Decodificar palavras impressas não é suficiente para competência em leitura; é também preciso reconhecer as palavras, para saber como são pronunciadas e ser capaz de interpretar o significado do texto - quanto maior for a fluência oral, mais fácil será esse reconhecimento e essa interpretação.
    • Mesmo que a criança precise ter aulas formais, o amor pela leitura e o interesse pela cultura do país onde a língua é falada são fatores que vão agilizar muito o desenvolvimento da leitura e da escrita na segunda língua.

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    segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

    II Concurso de Desenho “Brasileirinhos no Mundo”

    No post Crianças bilíngues e o valor das línguas sugiro que, a fim de aumentar o valor da língua portuguesa, pais devem procurar maneiras de seus filhos terem contato com a cultura brasileira, participando, entre outras coisas, de promoções organizadas pela comunidade brasileira. Uma promoção que cabe como uma luva neste modelo é um concurso, organizado pelo governo brasileiro, que visa promover e conservar vínculos culturais e de identidade das novas gerações de brasileiros no exterior com seu país de origem, e do qual podem participar crianças brasileiras entre 6 e 11 anos residentes no exterior.

    Estou me referindo à segunda edição do Concurso de Desenho Infantil "Brasileirinhos no Mundo", cujo tema é "A minha brasileira favorita / O meu brasileiro favorito".  Abaixo, o folheto oficial de divulgação distribuído pelo Ministério das Relações Exteriores.




    

    Os leitores mais observadores terão notado que a autora do desenho que ilustra o material de divulgação do concurso tem o mesmo sobrenome que a autora deste blog.

    Ocorre que nossa filha foi uma das premiadas na primeira edição do concurso, cujo tema era “O Meu Brasil”. Ela recebeu um diploma e um kit de prêmios enviados pelo Ministério das Relações Exteriores, e entregues pelo Cônsul-Geral do Brasil numa cerimônia no Consulado em Londres. Seu desenho foi exposto no Palácio do Itamaraty em Brasília e ela deu entrevistas para jornal e televisão. Uma experiência muito positiva, que a fez se sentir ainda mais envolvida com a cultura brasileira.

    E para finalizar com chave de ouro, tivemos a agradável surpresa de ver que o desenho de nossa filha foi escolhido para ilustrar o material de divulgação da segunda edição do concurso.

    As inscrições para 2011 vão de 1° de fevereiro a 1° de maio. Eu recomendo.

    Boa sorte!


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    domingo, 12 de dezembro de 2010

    Alfabetização de crianças bilíngues em português, parte 2 - É forjando que se faz o forjador

    Este é o segundo de três posts em que falo sobre alfabetização em português e tento mostrar o que aprendemos com nossa experiência. No primeiro post expliquei como crianças podem transferir conhecimentos obtidos na alfabetização de uma língua para outra e aqui vou falar de alguns fatores que permitiram que no nosso caso o processo se desse na prática. 


    Várias circunstâncias conspiraram para facilitar a transferência de conhecimentos por nossa filha da alfabetização em inglês para o português. Em primeiro lugar, a língua inglesa usa o mesmo alfabeto que o português. Haveria sem dúvida muito mais complicações se a alfabetização inicial tivesse sido em japonês ou russo – nesse caso suponho que teríamos que partir praticamente da estaca zero.   

    Também tivemos sorte por termos encontrado uma escola que alfabetizasse nossa filha usando o sistema fônico, no qual se ensina o som das letras, ao invés do método usado pelas escolas públicas inglesas na época, o construtivista ou global, que faz com que a criança aprenda a ler palavras inteiras, quase que tendo que adivinhar o que está escritoA principal diferença entre o método fônico e o construtivista é o ponto de partida: o fônico parte das letras e seus sons para formar, com elas, sílabas, palavras e depois frases; o construtivista parte das frases que se examinam e se comparam para, no processo de dedução, a criança encontrar palavras idênticas, sílabas parecidas e discriminar letras. Além de formar leitores mais capazes, as técnicas aprendidas com o sistema fônico podem ser facilmente transferidas para o português e outras línguas. O sistema construtivista, por outro lado, chegou a ser proibido na França, devido a alegações de que poderia causar dislexia (leia aqui reportagem da revista Veja sobre a doutrina construtivista nas escolas brasileiras). De fato, o método usado na alfabetização foi um dos principais fatores na escolha da escola primária para nossa filha e foi uma das razões por que optamos pelo sistema privado de ensino, pois a Inglaterra só reintroduziu o método fônico de alfabetização nas escolas primárias públicas em 2007.

    Após sua alafbetização em inglês, instintivamente entendemos que, já que nossa filha conhecia o código do som das letras, ela provavelmente poderia usá-lo razoavelmente bem também com a língua portuguesa. Criamos muitas oportunidades para ela tentar ler e escrever em português sem nenhum tipo de cobrança, para que ela interagisse com o português escrito de forma lúdica. No próximo post, o último da trilogia sobre alfabetização, incluirei uma lista contendo exemplos de algumas das estratégias que usamos nessa fase.

    Outro fator importante foi que durante um período após sua alfabetização em inglês nossa filha frequentou a escolinha de português que eu administrava. O objetivo da escola não era alfabetizar as crianças em português e sim ensinar e aprimorar a língua falada, mas muitas atividades que visavam enriquecer o vocabulário ou desenvolver conceitos de gramática envolviam materiais escritos. Aos pouquinhos, e sem sentir, as crianças iam cada vez mais se familiarizando com o português escrito, cada uma no seu ritmo. A atitude era a mesma que tínhamos em casa: as crianças já alfabetizadas em inglês podiam transferir conhecimentos e decodificar palavras e frases simples em portuguêsE a prática leva à perfeição, ou, como diz o provérbio francês, "é forjando que se faz o forjador".  

    O resultado foi que, de uma forma tão espontânea que nos surpreendeu, logo a pequena estava lendo e escrevendo competentemente também em português, e seu contato constante com o português escrito tem permitido que ela aprimore seus conhecimentos gradativamente.

    Talvez nossa filha precise de aulas de ortografia no futuro, se tiver planos mais ambiciosos com relação à língua portuguesa. No entanto, ela fez recentemente um simulado do exame escrito de português do GCSE, o General Certificate of Secondary Education, que alunos podem fazer ao final do ensino médio na Inglaterra, e tirou uma nota excelente, demonstrando formalmente um ótimo nível de competência na leitura e escrita do português.

    Apesar de muitos dos seus colegas da escolinha não terem aprendido a ler e escrever em português da mesma forma que ela, nossa filha não é um caso isolado. Tenho uma amiga, que agora mora nos Estados Unidos, cuja filha, que nasceu e sempre viveu fora do Brasil, aprendeu a ler em português praticamente sozinha - porque adorava ler gibis brasileiros.  O filho de uma outra amiga, nascido e educado na Inglaterra, lê e escreve em português sem nunca ter sido formalmente alfabetizado no idioma. Também conversei com uma mãe na Holanda recentemente, cujo filho, ainda pequeno, parece estar indo pelo mesmo caminho.

    Acredito que o segredo do sucesso desses casos esteja numa boa alfabetização na primeira língua, combinada com uma grande fluência no português falado e muita motivação para decodificar o português escrito.

    ***

    Material de apoio para alfabetização no sistema fônico
    O site Phonics4free é recomendado por Chris Woodhead, editor de educação do jornal The Times de Londres, ex Inspetor-Chefe de Escolas da Inglaterra e presidente do grupo de escolas Cognita. O site ainda está em construção, mas já contém muito material que pode ajudar pais que queiram ensinar seus filhos a ler usando o sistema fônico. O site é inspirado no trabalho de Mona McNee, que está hoje com 87 anos. Mona alfabetizou seu filho, portador da Síndrome de Down, em casa, contrariando a recomendação de educadores, que diziam que o menino não era capaz de aprender a ler, e desde então dedica a sua vida à alfabetização de crianças, especialmente as com dificuldade de aprendizado.

    segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

    Alfabetização de crianças bilíngues em português, parte 1 - Transferência de conhecimentos entre as línguas

    Pelos comentários recebidos de vários leitores do blog, bem como outros feitos pessoalmente e por email, notei uma certa ansiedade de alguns pais com relação à alfabetização de seus filhos em português, e decidi escrever sobre a nossa experiência. Apesar do desenvolvimento da língua falada ser um pré-requisito do processo, alguns dos pontos em questão devem ser considerados pelos pais desde muito cedo, portanto o assunto pode ser de interesse também para pais de crianças que ainda estão desenvolvendo a linguagem oral.

    Não sou especialista em alfabetização nem tenho pretensão de dar orientação nesta área, mas vou tentar explicar o que aprendemos com nossa experiência prática e discutir algumas constatações de pesquisadores. As idéias vão ser expostas em três posts, que são complementares e devem ser lidos em conjunto. 


      

    Uma coisa que provavelmente posso dizer com certeza é que crianças se beneficiam se forem estimuladas e introduzidas no mundo das letras desde bebezinho, independentemente do idioma ou idiomas em que se dá este estímulo.  Como já mecionei num artigo anterior, pesquisas demonstram que um ambiente linguisticamente rico em casa facilita muito a alfabetização da criança, mesmo que esta ocorra em outra língua. Ou seja, se os livros, jogos, etc., aos quais você expõe seu filho em casa são em português, e seu filho começa a ser alfabetizado na escola em inglês, a experiência linguística doméstica em português vai ser um fator positivo para a alfabetização em inglês. 


    Alguns estudos recentes mostram que, desde uma idade precoce, o multilinguismo pode também ajudar as crianças a adquirir mais rapidamente o domínio da leitura e da escrita, ou seja, conhecer uma segunda língua ajuda a criança a compreender mais depressa a escrita.

    Especialistas também confirmam a existência de transferência de conhecimentos entre as línguas no que diz respeito ao processo de alfabetização, aos sistemas sonoros (fonologia) e a habilidades de comunicação. Na prática o que nós observamos foi exatamente a transferência para o português dos conhecimentos adquiridos no processo de alfabetização em inglês, fazendo com que o aprendizado do português escrito se desse de uma forma mais ou menos espontânea.

       

    Para pais pensando em alfabetizar filhos bilíngues, o primeiro ponto importante destacado por especialistas é que a alfabetização em uma língua específica só deve ser iniciada quando a criança for totalmente fluente no idioma em questão. Segundo a psiquiatra Vera Zimmermann, da Universidade Federal de São Paulo, o domínio do idioma falado é fundamental para a alfabetização. Se a criança não falar fluentemente o idioma no qual se quer alfabetizá-la, poderá apresentar insegurança e maior dificuldade em assimilar a língua. Nesta situação o melhor provavelmente é priorizar o ensino da língua falada.

    Curiosamente, alguns especialistas também afirmam que o conhecimento e a habilidade da criança bilíngue de se adequar às culturas relacionadas às linguas faladas por ela interferem consideravelmente no processo de alfabetização. A meu ver o fator identidade cultural pode ser importante sim, especialmente em relação à motivação da criança.

    Apesar da sua fluência em português e inglês e do fato de ela ser uma bilíngue bicultural, decidimos não alfabetizar nossa filha simultaneamente em português e inglês. A maioria dos especialistas é contra a alfabetização simultânea em duas línguas. Segundo eles, distúrbios de grafia são comuns em crianças que passaram por alfabetizações simultâneas. "Não precisa ter pressa. O ideal é introduzir o [segundo] idioma escrito de forma gradativa, depois da alfabetização [no primeiro idioma]. Ao misturar tudo, podem surgir problemas como dislexia e dificuldades ortográficas", afirma a psicopedagoga Nívea Maria de Carvalho Fabricio, em entrevista a  Folhaonline. Concordo plenamente que não é necessário haver pressa em ensinar a criança a ler e escrever numa segunda língua. A meu ver o importante é que na infância ela ganhe fluência oral nos vários idiomas, aproveitando a facilidade natural que tem nessa fase.

    Após ter sido alfabetizada em inglês nossa filha teve muito contato com o português escrito, sempre de forma lúdica, ou seja, através de atividades descontraídas e desobrigadas de intencionalidade, livres de pressões e avaliações. Achávamos que esse contato era o suficiente para aquela fase do seu desenvolvimento. O ensino formal poderia ser introduzido mais tarde, se necessário, pois muitos especialistas dizem que crianças mais velhas, adolescentes e adultos possuem habilidades cognitivas mais avançadas e transferem mais facilmente seus conhecimentos prévios para aprendizagem da escrita em uma segunda língua.  Mas o que ocorreu na prática foi que, após estar alfabetizada em inglês e tendo apenas esse contato lúdico com o português escrito, a pequena começou a fazer progresso também na leitura e escita em português.

    Segundo nossa filha, esse progresso ocorreu, mesmo sem treinamento formal, “porque português é uma língua fácil”. Realmente, talvez não seja  tão fácil aprender a falar português, mas ler e escrever em português pode ser bem mais fácil que em inglês por exemplo, pois a ortografia do português é predominantemente fonética, ou seja, as letras ou grupos de letras têm quase sempre o mesmo som. No inglês as regras são bem mais complicadas porque a ortografia é etimológica, ou seja, a um mesmo som podem corresponder diversas letras e a cada letra ou grupo de letras diversos sons, dependendo da história, da gramática e dos usos tradicionais. Um grupo de letras (por exemplo ‘ough’) pode ter mais de quatro sons diferentes, dependendo da palavra onde está inserido. Em português as coisas são mais fáceis e uma criança pode entender as regras gerais do sistema instintivamente.  

    O processo a meu ver é semelhante ao do aprendizado da fala. Quantas vezes seu filho disse ‘fazido’ ou ‘mais bom’ quando estava aprendendo a falar? Ele estava simplesmente usando as ‘regras’ que tinha instintivamente entendido que se aplicavam à língua (de acordo com o especialista Noam Chomsky, quem domina uma língua internalizou um conjunto de regras que especifica as sequências permitidas naquela língua). As exceções são aprendidas com o uso continuado do idioma. Uma vez que a criança é alfabetizada numa língua que usa o alfabeto latino, e especialmente se é alfabetizada pelo sistema fônico (do qual falarei no próximo post), a meu ver ela tem as ferramentas necessárias para decifrar o código do português escrito da mesma forma que fez com o falado. Tudo o que ela precisa a partir daí é motivação, estímulo e contato suficiente com o português escrito para, com a prática, aprender as exceções.

    Copyright © Claudia Storvik, 2010. All rights reserved.

    Veja também  Alfabetização de crianças bilíngues em português, parte 2 - É forjando que se faz o forjador

    Alfabetização de crianças bilíngues em português, parte 3 - Motivação e estímulo

    quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

    Bursaries - Educação particular ao alcance de famílias de baixa renda na Inglaterra

    Num post anterior falei sobre bolsas de estudo para o ensino médio e fundamental na Inglaterra. Aqui vou tratar de uma outra forma de ajuda financeira para alunos de escolas particulares: bursaries, o crème de la crème do financiamento de mensalidades escolares para famílias de baixa renda.

    Bursaries são na prática bolsas de estudo dadas puramente com base na situação financeira da família do estudante, sem nenhuma referência ao desempenho acadêmico da criança.  Geralmente estão disponíveis tanto para alunos novos quanto para alunos já matriculados na escola, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio e Sixth Form. 

    Diferentemente de bolsas de estudo, que normalmente cobrem no máximo 50% do valor das mensalidades, bursaries podem cobrir até 100% dos custos escolares.



    Os candidatos a bursaries devem seguir o procedimento padrão de admissão na escola, mas os pais também devem preencher um formulário detalhando sua situação financeira. Em todos os casos, a renda familiar deve ficar abaixo de um limite. Por exemplo, em Highgate School, em Londres, que tem mensalidades de £15.120 por ano, o limite de renda anual é de £25.000 para um bursary de 100% e de até £50.000 para uma assistência mais limitada.

    Bursaries tendem a ser oferecidos pela maioria das escolas particulares, mas não por todas, portanto quando pesquisar uma escola investigue as opções de financiamento disponíveis. A informação está normalmente descrita no prospecto ou website da escola, mas você pode ter que investigar mais a fundo e falar com a escola diretamente.

    Ao se inscreverem num desses programas os pais ou responsáveis têm que preencher uma declaração garantindo que o aluno cumpre os critérios necessários. Eles têm que apresentar documentos comprovando sua renda familiar, despesas, bens e dívidas e também podem ter que fornecer referências de alguém em uma posição de responsabilidade, como o médico da famíliaAlguns esquemas de bursary exigem que o recipiente seja oficialmente residente no Reino Unido há um certo tempo. As informações são tratadas com absoluto sigilo.

    Uma vez que o benefício é concedido, o fato de uma criança ter suas mensalidades financiadas por um bursary também é tratado confidencialmente, ou seja, os coleguinhas, outros pais e até mesmo professores não saberão que a criança recebe ajuda financeira, o que evita que haja qualquer tipo de discriminação.

    Finalmente, nada impede que um aluno que recebe uma bolsa de estudo também receba um bursary, se sua situação estiver dentro dos requisitos aplicáveis. Algumas escolas, como Harrow, oferecem bursaries apenas a alunos que receberam bolsas de estudo mas não podem pagar a parte do valor das mensalidades que não é coberta pela bolsa.
    Bursaries na prática

    Abaixo transcrevo o relato de uma amiga que conseguiu recentemente um bursary que dá um desconto excelente na mensalidade da escola particular de seu filho.

    Vou contar um poquinho da minha experiência com o bursary.

    Meu filho tem onze anos e acabou de sair de uma escola primária do governo para iniciar o ensino secundário numa escola particular onde, após seis meses de intensa troca de informações, conseguimos um bursary de 50% para ele.

    Nós já haviamos ido a essa escola sondar o preço, pois é uma escola com filosofia diferenciada que já conhecíamos do Brasil. O problema era o preço. Eu e meu marido não podíamos pagar. Quando já haviamos desistido, a Cláudia nos falou do bursary. Corremos lá para pedir informações na maior cara de pau (acredito que essa é a melhor maneira, as pessoas acham mais difícil dizer não na sua cara do que por telefone ou por email). Era verdade, nosso sonho começava a se tornar realidade!

    Pelo que pude entender através de todo o processo pelo qual passamos, trata-se de uma bolsa, cujo critério para obtenção é 'baixa renda', e não boas notas em exames como de costume. Meu filho não precisou fazer nenhuma prova ou teste para conseguir.

    O bursary é uma exigência do governo, para que escolas particulares possam continuar gozando de algum status de charity que tenham adquirido.

    A escola é obrigada a fornecer informações e a tratar imparcialmente todos os candidatos, obedecendo ao critério 'baixa renda' durante todo o processo. Por isso é imprescindível falar a verdade, porque tudo será checado, através dos documentos de comprovação de renda e de despesas que a família terá que apresentar. Quanto mais baixa a renda, maiores são as chances. E o bursary em algumas escolas chega a ser integral. Qualquer pessoa que esteja legalizada no Reino Unido pode se candidatar. Basta ter comprovação de renda e de despesas.

    Ah! E no nosso caso a bolsa se estende proporcionalmente à merenda e às excursões também. Então não tem aquela de ter medo de não poder arcar com as despesas extras da escola. Eles fazem as contas direitinho, de um jeito que cabe no seu bolso.

    Aconselho a quem se candidatar a um bursary, fazer paralelamente todo o processo de inscrição para uma escola secundária do estado, só para garantir. Foi o que fizemos. 

    Novas oportunidades

    Vale a pena ficar sempre atento. Novos esquemas surgem o tempo todo, portanto estar em dia com a informação é crucial. Entre os vários projetos de que se fala no momento, um muito interessante é o do grupo de escolas particulares de elite que tem planos de criar mil vagas totalmente gratuitas em Sixth Forms para alunos de baixa renda com bom desempenho acadêmico. Leia mais detalhes aqui.

    Boa sorte!


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    segunda-feira, 29 de novembro de 2010

    Entrevista sobre educação bilíngue

    Desde que comecei a escrever este blog conheci muita gente interessante mundo afora, especialmente mães brasileiras criando filhos bilíngues. Uma dessas mães, a Dani do Mamães na Itália, me entrevistou recentemente para o seu blog. Achei o resultado bem informativo, pois imagino que muitos pais possam ter as mesmas dúvidas que a Dani, e portanto decidi reproduzir a entrevista aqui em Filhos bilíngues também. Espero que gostem.


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    Esta primeira pergunta pode parecer um tanto tola, mas acredito que muitas pessoas não têm idéia do que realmente é bilinguismo, portanto, como você definiria bilinguismo e  multilinguismo?

    A pergunta não é tola, absolutamente, até porque não existe uma definição de bilinguismo universalmente aceita. Eu pessoalmente defino bilinguismo como a habilidade de falar fluentemente duas línguas.  “Fluentemente” é um termo relativo, que a meu ver significa falar o suficiente para se comunicar de uma maneira competente e natural, em que a conversação “flui”. Na verdade acho que fluência tem mais a ver com o fato de a pessoa se comunicar com seguraça, mesmo que cometa erros. Há pessoas que falam duas línguas como se fossem falantes nativas, como minha filha com português e inglês, e outras que, apesar de terem sotaque e cometerem erros graves, eu também consideraria fluentes. A habilidade de ler e escrever nas respectivas línguas não é essencial para definir uma pessoa como bilíngue.  No blog trato principlamente do bilinguismo infantil, que traz inúmeras vantagens, e que é um presente dos pais para os filhos, pois não envolve esforço especial algum por parte da criança.  Multilinguismo é um termo mais amplo, que uso para cobrir bilinguismo, trilinguismo (habilidade de falar três línguas) e poliglotismo (habilidade de falar quatro ou mais línguas).

    Você divide os pais de filhos bilíngues em 3 categorias:  1. tanto o pai quanto a mãe são brasileiros, ou falam português fluentemente, e português é a única língua falada em casa;  2. somente um dos pais fala português, enquanto que o outro fala a língua do país de residência;  3. um dos pais fala português e o outro fala um terceiro idioma, que não é o do país de residência. No primeiro caso, você diz que é mais fácil introduzir o filho no mundo do bilinguismo, já que os pais falam português em casa e na rua o filho aprenderia por imersão. No entanto, qual conselho você daria para aqueles pais que acabam caindo na “Síndrome Passione”? Uso essa expressão em referência à novela Passione da Globo, em que alguns personagens italianos falam também português, mas tudo misturado em uma única frase. Entende-se o que eles querem dizer, mas eles acabam formando uma terceira língua que não é nem o português, nem o italiano. Às vezes parece inevitável introduzir alguns termos da língua do país no cotidiano dentro do lar - isso gera muita confusão para o aprendizado da criança?

    Um adulto só pode ensinar uma criança a falar bem uma língua se ele mesmo a falar corretamente. Ou seja, se o adulto mistura as línguas a criança também vai misturar. Quando estão aprendendo a falar mais de um idioma os pequenos sempre misturam um pouco no princípio, mas quando os adultos falam suas respectivas línguas corretamente a criança logo aprende a separá-las. Um certo grau de transferência de vocabulário de uma língua para outra às vezes é inevitável sim, como palavras que não têm uma tradução fácil para o outro idioma, mas na medida do possível isso deve ser evitado, para não confundir a criança. Se você quer que seu filho seja bilíngue, esforce-se para falar em bom português com ele.

    Ainda no caso de pais brasileiros no exterior, você fala sobre a valorização do português. Quais estratégias são aconselhadas?

    Basicamente a criança tem que associar o idioma a coisas que ela gosta e entender que precisa usar a língua para ter acesso a elas. Estratégias que menciono no blog vão desde viagens ao Brasil até frequentar escolinhas de português no país de residência.

    Como se dariam essas estratégias no caso de pais que estão nas categorias 2 e 3?

    A meu ver não há diferença. Se apenas um dos pais fala português ele deve desenvolver as estratégias da mesma forma que faria se os dois falassem a língua.

    Em seus textos você fala sobre a dificuldade de criar um filho bilíngue quando os pais têm idiomas maternos diferentes ou quando um deles fala uma língua que não é a do país de residência. Neste caso é de extrema importância criar uma rotina linguística, haver apoio e consciência do casal na educação bilíngue do filho. Você poderia compartilhar um pouco da sua experiência prática na criação de sua filha? Quais foram os momentos marcantes? Houve momentos de desânimo? Existiu apoio ou algum empecilho por parte de familiares quanto a sua filha aprender o norueguês ou o português?

    Sempre tivemos apoio de nossas famílias no Brasil e na Noruega para ensinar as duas línguas para nossa filha, pois de outra forma ela não seria capaz de se comunicar com os parentes.  Quanto a como as coisas aconteceram na prática, há uma palavra que resume tudo: naturalmente. Nunca forçamos nada. Sempre falei português com ela porque era o que sentia ser natural, e sempre conseguimos expô-la naturalmente ao norueguês o suficiente para que ela ganhasse competência também nessa língua.  Como os vários idiomas foram sempre apenas parte do cenário de nossa história, não consigo pensar em momentos marcantes ou de desânimo relacionados especificamente ao desenvolvimento linguístico de nossa filha.

    Você percebeu alguma diferença em sua filha em relação as crianças da mesma idade na época de começar a falar?

    Ela começou a falar cedo, mas as três línguas se desenvolveram em velocidades bem distintas. De qualquer forma, sempre tentei evitar comparações, porque com crianças multilíngues as coisas acontecem de um modo diferente das crianças monolíngues.

    Segundo a reportagem da Veja que você indicou, o ideal é alfabetizar o filho bilíngue em cada um dos idiomas em épocas diferentes para não cair no erro da salada mista de línguas. Como foi sua experiência na alfabetização do português-inglês  com sua filha?

    Não sou professora ou especialista em alfabetização, e nem pretendo dar orientação sobre esse assunto, mas no caso de nossa filha ela estava totalmente alfabetizada em inglês quando começou - sozinha - a ler e escrever em português. Ainda não escrevi sobre isso no blog, mas foi fantástico. Claro que ela tinha tido muito estímulo até ali, mas nunca tinha sido alfabetizada formalmente.  Com base puramente no meu instinto e na minha experiência prática, não vejo vantagem alguma em alfabetizar uma criança simultaneamente em duas línguas, nem razão de ter pressa em alfabetizar numa segunda língua. O importante é que na infância a criança ganhe fluência oral nos vários idiomas, aproveitando a facilidade natural que tem nesta idade.

    Por que é importante conscientizar a criança do valor do bilinguismo? Quais erros não cometer?

    A meu ver isso ajuda a desenvolver ainda mais as vantagens cognitivas que o blinguismo dá a ela, pois a criança passa a entender melhor os mecanismos envolvidos no processo. Ela vai se interessar mais por outras línguas também. Seria um grande erro permitir que a criança associe o bilinguismo a fatores negativos, como pobreza ou discriminação.

    Pela sua experiência, você acha que educar uma criança em línguas irmãs do português, como italiano, espanhol, francês, seria um problema? Principalmente no caso da alfabetização, onde a escrita de algumas palavras é muito semelhante e a troca de uma ou outra letra pode ser um erro grosseiro, como o caso da palavra “próximo” em português e “prossimo” em italiano.

    Não tenho experiência nesse sentido mas imagino que deva haver problemas, sim. Especialmente nesses casos, meu instinto diz que seria melhor esperar ainda mais para alfabetizar na segunda língua, para permitir à criança aprender a escrever bem num dos idiomas primeiro e só então introduzir o segundo. Mas, como disse, não sou especialista nessa área.

    Você gostaria de deixar algum incentivo para os pais que estão nessa busca do bilinguismo?

    Bilinguismo infantil é algo natural, que “acontece” com a criança se as circunstâncias forem favoráveis. A função dos pais é tentar criar essas circunstâncias. Nunca compare seu filho com outras crianças nem dê ouvidos a críticas de amigos ou professores. Toda criança vai aprender a língua do país onde vive mais cedo ou mais tarde. Se você conseguir dar a seu filho um mínimo de intimidade com outro idioma você vai estar lhe fazendo um grande favor  - mesmo que o resultado não seja perfeito, pois na prática ele raramente o é

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